terça-feira, 17 de julho de 2012

LÁ VAI UMA BROXADA!




               Texto escrito por Agenor Portelli Teixeira Magalhães


Existe polêmica sobre a grafia correta da palavra broxa ou brocha. Há controvérsias entre os dicionaristas. O Aurélio adota broxa para impotente sexual e para pincel grande, reservando a palavra brocha no sentido de brochura, encadernação.
Já o Hoaiss adota uma única forma apenas com ch. Em Portugal também se usa brocha para impotência e “ter dificuldades”.
Para nossa história vamos ficar com a grafia broxa, que se refere a um pincel grande, de pelos ordinários usado em caiação de paredes.
No jargão da Praça São Benedito, em nosso tempo de criança, broxada significava lambuzada, sujada, cag....
Nos tempos de Getúlio Vargas as praças eram nossas, sem mendigos, indigentes, pivetes, marginais. Os mendigos contavam-se nos dedos. Cada praça tinha os seus. Os nossos mendigos eram o Tonteira e a Sebastiana.
A Praça São Benedito era demarcada em áreas para uso das peladas de futebol das turmas da rua do Príncipe, da rua do Rosário e da Rua do Ouvidor. A rua do Príncipe era nossa com direito à parte dos moradores da Saldanha Marinho. A turma da rua do Rosário tinha ascendência sobre a rua Saldanha Marinho e a turma da rua do Ouvidor usava a rua Conselheiro Otaviano, entre a igreja e o coreto.
Nossos adversários e desafetos principais eram da rua do Rosário. Tivemos embates memoráveis, mas geralmente éramos derrotados no futebol, pois tinham jogadores mais experientes e, vamos lá, melhores.
O jogo (pelada) era sem camisa e sem juiz. O bom senso prevalecia nas marcações duvidosas: bola prensada, falta, bola na mão, mão na bola tinham que ter decisão de consenso rápida para não quebrar a dinâmica do jogo. A maior discussão era reservada para os gols. As balisas eram marcadas com dois montes de pedras, e quando a bola chutada passava por sobre a cabeça do goleiro a dúvida era esclarecida tomando como referência o tamanho do goleiro. Ele tinha que levantar os braços e pular e então se avaliava se a bola teria passado acima da mão ou abaixo. Isso era medido a olho e muito depois da bola ter sido arrematada a gol.
O craque da rua do Príncipe era o Basset, filho do seu Camelinho, mas tínhamos também os irmãos Mota: Lauro, Antonio Manoel e Cláudio, além do Hélcio. Pela rua do Rosário jogavam o Ronaldo meio quilo, o Clemir e o Valcir (traidor da rua do Príncipe).
A incomodar nos dias de jogo era o rapa que era acionado pelo impertinente Armando Dineli. Quando o camburão apontava lá na esquina do Nico corríamos para a primeira porta aberta. O que estivesse com a bola tinha o dever de salvá-la, pois o objetivo do rapa era tomá-la de nós. Quando a polícia ia embora retomávamos a partida, mas antes cumpríamos o ritual que instituímos como vingança. Eu apanhava o balão de couro, encharcava na poça de lama e gritava: Lá vai uma broxada! E chutava a bola na fachada da casa do Dineli. Em seguida era a vez de Luiz, depois o Hélcio e mais quem quisesse. De certa feita a fachada da casa do Dineli ficou em tal estado de petição de sujeira que papai, com vergonha, mandou um pintor caiar a fachada da casa. Do peitoril da janela para baixo foi pintada de marrom para não aparecer as boladas.
Quando havia briga no jogo envolvendo a mim ou Luiz, - Gastão dava o alarme, - mamãe surgia com uma vassoura na mão e comia a molecada no pau. Penso que ela era a mãe mais temida do jardim São Benedito.

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