Texto escrito por Agenor Portelli Teixeira
Magalhães
Existe polêmica sobre a grafia correta da palavra broxa
ou brocha. Há controvérsias entre os dicionaristas. O Aurélio adota broxa para
impotente sexual e para pincel grande, reservando a palavra brocha no sentido
de brochura, encadernação.
Já o Hoaiss adota uma única forma apenas com ch. Em
Portugal também se usa brocha para impotência e “ter dificuldades”.
Para nossa história vamos ficar com a grafia broxa,
que se refere a um pincel grande, de pelos ordinários usado em caiação de
paredes.
No jargão da Praça São Benedito, em nosso tempo de
criança, broxada significava lambuzada, sujada, cag....
Nos tempos de Getúlio Vargas as praças eram nossas,
sem mendigos, indigentes, pivetes, marginais. Os mendigos contavam-se nos
dedos. Cada praça tinha os seus. Os nossos mendigos eram o Tonteira e a
Sebastiana.
A Praça São Benedito era demarcada em áreas para uso
das peladas de futebol das turmas da rua do Príncipe, da rua do Rosário e da
Rua do Ouvidor. A rua do Príncipe era nossa com direito à parte dos moradores
da Saldanha Marinho. A turma da rua do Rosário tinha ascendência sobre a rua
Saldanha Marinho e a turma da rua do Ouvidor usava a rua Conselheiro Otaviano,
entre a igreja e o coreto.
Nossos adversários e desafetos principais eram da
rua do Rosário. Tivemos embates memoráveis, mas geralmente éramos derrotados no
futebol, pois tinham jogadores mais experientes e, vamos lá, melhores.
O jogo (pelada) era sem camisa e sem juiz. O bom
senso prevalecia nas marcações duvidosas: bola prensada, falta, bola na mão,
mão na bola tinham que ter decisão de consenso rápida para não quebrar a
dinâmica do jogo. A maior discussão era reservada para os gols. As balisas eram
marcadas com dois montes de pedras, e quando a bola chutada passava por sobre a
cabeça do goleiro a dúvida era esclarecida tomando como referência o tamanho do
goleiro. Ele tinha que levantar os braços e pular e então se avaliava se a bola
teria passado acima da mão ou abaixo. Isso era medido a olho e muito depois da
bola ter sido arrematada a gol.
O craque da rua do Príncipe era o Basset, filho do
seu Camelinho, mas tínhamos também os irmãos Mota: Lauro, Antonio Manoel e
Cláudio, além do Hélcio. Pela rua do Rosário jogavam o Ronaldo meio quilo, o
Clemir e o Valcir (traidor da rua do Príncipe).
A incomodar nos dias de jogo era o rapa que era acionado pelo impertinente
Armando Dineli. Quando o camburão apontava lá na esquina do Nico corríamos para
a primeira porta aberta. O que estivesse com a bola tinha o dever de salvá-la,
pois o objetivo do rapa era tomá-la
de nós. Quando a polícia ia embora retomávamos a partida, mas antes cumpríamos o
ritual que instituímos como vingança. Eu apanhava o balão de couro, encharcava
na poça de lama e gritava: Lá vai uma
broxada! E chutava a bola na fachada da casa do Dineli. Em seguida era a vez
de Luiz, depois o Hélcio e mais quem quisesse. De certa feita a fachada da casa
do Dineli ficou em tal estado de petição de sujeira que papai, com vergonha,
mandou um pintor caiar a fachada da casa. Do peitoril da janela para baixo foi
pintada de marrom para não aparecer as boladas.
Quando havia briga no jogo envolvendo a mim ou Luiz,
- Gastão dava o alarme, - mamãe surgia com uma vassoura na mão e comia a
molecada no pau. Penso que ela era a mãe mais temida do jardim São Benedito.
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