Trecho da Peça VIVER SEM TEMPOS
MORTOS, inspirada na correspondência de Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre,
com Fernanda Montenegro. Colaboração de Afonso Muniz.
A impressão que eu tenho é de não
ter envelhecido, embora eu esteja instalada na velhice. O tempo é irrealizável.
Provisoriamente, o tempo parou pra mim. Provisoriamente. Mas eu não ignoro as
ameaças que o futuro encerra, como também não ignoro que é o meu passado que
define a minha abertura para o futuro.
O meu passado é a referência que
me projeta e que eu devo ultrapassar. Portanto, ao meu passado eu devo o meu
saber e a minha ignorância, as minhas necessidades, as minhas relações, a minha
cultura e o meu corpo.
Que espaço o meu passado deixa
pra minha liberdade hoje? Não sou escrava dele. O que eu sempre quis foi
comunicar da maneira mais direta o sabor da minha vida, unicamente o sabor da
minha vida. Acho que eu consegui fazê-lo; vivi num mundo de homens, guardando
em mim o melhor da minha feminilidade. Não desejei nem desejo nada mais do que
viver sem tempos mortos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário