Crônica escrita por Mauricio Savarese, colaboração para o
blog, de Eusébio Galvão.
Nem adianta insistir. Mostrar o
mapa, as bandeiras da União Européia nos prédios públicos ou gritar que a
seleção inglesa joga a Euro copa (sempre uma experiência breve...). Para os
britânicos, uma coisa é “o grande império onde o sol nunca se põe” e outra é
aquela faixa de terra além do canal da Mancha. A Europa não é aqui.
Experimente dizer no centro de
Londres que aquele é seu lugar preferido na Europa. Um morador das antigas, com
toda a reserva britânica, pode dar uma resposta mais ou menos assim: “Os
europeus têm muitas cidades incríveis, como Paris, Berlim e Roma. E aqui no
Reino Unido nada é melhor que isto”. Marcam posição sem abrir mão da sutileza.
Meus amigos britânicos dizem que
adoram “viajar para a Europa”. Eu sempre rio. Um deles cravou a seguinte:
“Seremos Europa quando as tomadas forem todas iguais”.
Os fabricantes de adaptadores
daqui nem têm dúvida: é United Kingdom na entrada e Europe na saída. Nas
propagandas de celular, que beleza, o aparelho funciona na Europa.
No campo dos afetos essa noção
também existe. Uma coisa é namorar uma mocinha local. Outra é namorar uma
européia. Pode ser espanhola, italiana, dinamarquesa, polonesa, grega. Se não é
britânica e nasceu em um país aonde se chega em menos de três horas de vôo, é
tudo europeia. Distinção feita à França, adorada e detestada, que sempre merece
distinções por aqui.
Shakira, minha amiga antropóloga
(não, ela não é colombiana nem sabe requebrar), diz que a não-adesão ao euro é
o principal símbolo dessa visão mais insular do que continental. Agora que a
Europa está cheia de problemas e por aqui não está tão grave assim, diz ela, o
Reino Unido se isola ainda mais acariciando sua auto-imagem.
Certamente existem muitas
diferenças entre os países europeus, mas não sei de nenhum outro que se esforce
tanto para se destacar dentro do próprio continente. Os estrangeiros que
conheci parecem achar mais graça do que incômodo nessa noção. “Se o Reino Unido
não é Europa, imagina só a Islândia”, me diz um italiano.
Seria um estranhamento novo se
não fosse brasileiro. Nós também temos nosso pé na britânia quando nos falam
sobre a América Latina. Não sou diferente da maioria. Quando me perguntam sobre
a música da Colômbia ou o atual governo do Panamá, explico a posição do Brasil
como único que fala português na região. Acesso limitado aos outros. A América
Latina não é aí. Pelo menos nisso, os britânicos sabem o que eu quero dizer.
Maurício Savarese é mestrando em
Jornalismo Interativo pela City University London. Foi repórter da agência
Reuters e do site UOL. Freelancer da revista britânica FourFourTwo e autor do
blog A Brazilian Operating in This Area Twitter: msavarese.
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