domingo, 4 de novembro de 2012

O MOMENTO É FUGAZ





         Em princípio, toda mulher bonita, sensível e inteligente gosta de ser cortejada. Como galante incorrigível, não perco uma oportunidade. Acho eu, na minha filosofia que é “pecado mortal”, diante de uma fêmea esplêndida da espécie humana, linda, charmosa, livre, leve e solta, você deixar de olhar, suspirar ou imortalizar em imagens e versos esse momento fugaz e encantador. Até porque, “a vida é breve, e a paixão, intensa”, segundo Omar Kayam.
         Grandes artistas pintaram, esculpiram, fotografaram ou transformaram em canções esses momentos, como fez Vinícius de Moraes:
“Olha que coisa mais linda,
Mais cheia de graça,
É ela menina
Que vem e que passa
Seu doce balanço
Caminho do mar...”

         Como trabalho num universo predominantemente feminino, criei o hábito de transformar em poesias essas apreciações de natureza estética, com retorno elogiado pelas musas, enaltecidas.
         Vai daí que uma colega minha do Liceu, certo dia, me cobrou queixosa:
¬ Você faz poesia para todas as professoras, só não faz para mim!?!
¬ Não precisa pedir duas vezes, minha amiga!!! Farei com todo prazer!!!
         No dia seguinte, contrariando aquela máxima do filósofo: “O primeiro homem que comparou uma mulher a uma flor era um poeta, o segundo um pateta”, apresentei a minha poesia lírica. Ficou toda contente e embevecida com a minha gentileza. Mais à frente, um pouco indecisa, arriscou:
¬ Dá pra você fazer outra poesia??! Ora, afinal você mexeu com os meus sentimentos...!
         Pode deixar que eu repito a dose, colega!
         Recebeu o novo poema, cheia de expectativas. Estava ansiosa, Seu olhar e respiração revelavam isso. Era um cântico sobre suas formas sedutoras. A partir daí, ela passou a ficar tímida e insegura quando me via.
         Não passou muito tempo, ela me cobrou toda dengosa: “Faz outra poesia pra mim”!
         E lá fui eu, buscando inspiração, poetando, seguidamente, até que lá pelo vigésimo poema, ela se dirigiu a mim bastante entusiasmada:
¬ O que mais gostei, foi o que você escreveu: “que eu era uma fêmea nota dez”!!!
¬ Conceito de professor, colega! Vícios da profissão!
         E assim a coisa ia, ou foi, até que certo dia um cidadão bateu a minha porta. Mal encarado, trazia debaixo do braço um punhado de papéis. Ao ser atendido, me apresentou aquele calhamaço de escritos, indagando agressivamente:
¬ É o senhor que anda escrevendo isso para minha mulher???!
         Diante da surpresa, só me restou aquela saída:
¬ O senhor está completamente equivocado! Eu???! Deve ser um homônimo ou algum sacana, usando indevidamente o meu nome!
         Antes que ele recuperasse o ânimo, apliquei o golpe mortal:
¬ O senhor quer saber de um segredo??? Eu tenho ojeriza à mulher!!! Desde os meus vinte anos de idade ando “entojado” dessas coisas!. Acho até que sou “boiola”!

        Luiz Magalhães (Matéria publicada em jornal).

Observação – Isso é para quem gosta de viver perigosamente.

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