Texto escrito por Gilda
Mattoso, viúva de Vinicius de Moraes. Enviado para publicação neste blog por
Lúcia Marina Galvão de Queirós, prima da autora.
Publicado no Jornal Correio da Bahia e no blog O que a Bahia Quer Saber, em 02 de março de 2013, em comemoração aos 100 anos de Vinícius de Moraes.
Quando viemos da Europa para continuar nossa vida
juntos, em dezembro de 78, a primeira viagem foi a Salvador, justamente por
Vinicius gostar tanto da cidade e ter tantos amigos ali. Eu já morava havia
quase seis anos na Europa e só tinha conhecido Salvador ainda menina, muito en
passant, numa viagem ao Ceará. Ele queria que eu conhecesse bem a cidade que
tanto amava. Foi a primeira de uma série de viagens mas, pelos mais diversos
motivos, foi marcante em minha vida.
Nos hospedamos no Convento do Carmo por uns dias e saíamos sempre com Roni e Eliane, com Walter e Luz da Serra Queiroz, com Micheline e Elsimar Coutinho, Sonia Gantois, entre outros amigos (que depois da morte dele eu conservei). Depois, nos mudamos para Itapuã, para a casa/ateliê de Calazans Neto e Auta Rosa, seus amigos fraternos dos tempos em que morou na cidade. Lá, na linda casa do grande artista e sua adorável mulher, me senti totalmente à vontade. Vinicius, então, ficava de molho na piscina e sentava molhado nos sofás da dona da casa e solicitava guloseimas à fantástica cozinheira da casa. À noite, se juntavam a nós Zelia e Jorge Amado, Luiza e James Amado, outros amigos queridos de Vinicius que permanecem no meu coração. A insegurança inicial de ser tão menina e casada com um mito se dissipou pela acolhida desses amigos baianos tão especiais.
Vinicius tinha paixão pela Bahia que cantou como se fosse sua terra. Nessa temporada, tive o impacto de conhecer, levada por ele, Mãe Menininha do Gantois que me recebeu com grande carinho, jogou búzios e tranqüilizou meu coração com relação a minha família, muito tradicional, que não recebeu muito bem meu casamento com um boêmio, quase 40 anos mais velho. Sem saber de nada, me assegurou: “Você tem muitos irmãos e estão todos com você, não se preocupe”, disse a grande Ialorixá a quem Vinicius devotava o maior respeito e carinho. Foi ela que tirou dele o pavor de avião e, como ele era filho de Oxalufã, sempre se sentava numa poltrona ao lado da cabeceira da cama dela, que, como eu, era de Oxum. Vinicius sempre dizia: “Eu não sou de candomblé, eu sou de Mãe Menininha”.
Herdei dele esse amor pela Bahia e, após a sua morte, trabalhei na produção para o Natal da TV Globo, em 1980, de um disco duplo em homenagem a ele com músicas, poesias e depoimentos de gente amiga. Fui assistente de produção do projeto, cuja titular era Marilda Pedroso, e incumbida de ir à Bahia, gravar os depoimentos desses e de outros amigos (Jenner Augusto, Carybé, entre outros). Anos mais tarde, quis o destino que eu viesse a trabalhar com Maria Bethânia, depois com Caetano Veloso, por 15 anos, e há quase 10 anos com Gilberto Gil, o que me fez mais ‘baiana’ ainda.
Devo a Salvador momentos lindos de minha vida e de minha filha, outra baiana de coração, desde que nasceu, há 23 anos. Acho que em tudo isso tem a mão generosa de Vinicius. Sempre que posso vou a Itapuã pra ver a bonita escultura dele que fica numa pracinha e traz ele sentado com uma mesinha ao lado onde repousa um copo! Gosto de me sentar na outra cadeira e seguro a mão da escultura e penso muito nele e em como ele adoraria estar mesmo ali.
E eu mais ainda. Como gostaria de rever a Bahia ao lado dele novamente!
Tenho ainda Yeda e Adailto Almeida, irmãos que conheci quando trabalhava na Polygram e que permanecem meus amados amigos até hoje. Eles são produtores dos melhores shows da cidade e amados por todos os artistas e amigos que têm a felicidade de conviver com eles. Portanto, é uma legião de baianos da melhor qualidade que herdei de Vinicius e outros que conquistei.
Vinicius se sentia em casa nesta cidade abençoada pelos deuses e devia a ela momentos de rara inspiração, como na linda canção Tarde em Itapuã. Vinicius tem toda razão. E agora, que celebramos o seu centenário, que bom que o CORREIO lhe presta esta minha homenagem.
Nos hospedamos no Convento do Carmo por uns dias e saíamos sempre com Roni e Eliane, com Walter e Luz da Serra Queiroz, com Micheline e Elsimar Coutinho, Sonia Gantois, entre outros amigos (que depois da morte dele eu conservei). Depois, nos mudamos para Itapuã, para a casa/ateliê de Calazans Neto e Auta Rosa, seus amigos fraternos dos tempos em que morou na cidade. Lá, na linda casa do grande artista e sua adorável mulher, me senti totalmente à vontade. Vinicius, então, ficava de molho na piscina e sentava molhado nos sofás da dona da casa e solicitava guloseimas à fantástica cozinheira da casa. À noite, se juntavam a nós Zelia e Jorge Amado, Luiza e James Amado, outros amigos queridos de Vinicius que permanecem no meu coração. A insegurança inicial de ser tão menina e casada com um mito se dissipou pela acolhida desses amigos baianos tão especiais.
Vinicius tinha paixão pela Bahia que cantou como se fosse sua terra. Nessa temporada, tive o impacto de conhecer, levada por ele, Mãe Menininha do Gantois que me recebeu com grande carinho, jogou búzios e tranqüilizou meu coração com relação a minha família, muito tradicional, que não recebeu muito bem meu casamento com um boêmio, quase 40 anos mais velho. Sem saber de nada, me assegurou: “Você tem muitos irmãos e estão todos com você, não se preocupe”, disse a grande Ialorixá a quem Vinicius devotava o maior respeito e carinho. Foi ela que tirou dele o pavor de avião e, como ele era filho de Oxalufã, sempre se sentava numa poltrona ao lado da cabeceira da cama dela, que, como eu, era de Oxum. Vinicius sempre dizia: “Eu não sou de candomblé, eu sou de Mãe Menininha”.
Herdei dele esse amor pela Bahia e, após a sua morte, trabalhei na produção para o Natal da TV Globo, em 1980, de um disco duplo em homenagem a ele com músicas, poesias e depoimentos de gente amiga. Fui assistente de produção do projeto, cuja titular era Marilda Pedroso, e incumbida de ir à Bahia, gravar os depoimentos desses e de outros amigos (Jenner Augusto, Carybé, entre outros). Anos mais tarde, quis o destino que eu viesse a trabalhar com Maria Bethânia, depois com Caetano Veloso, por 15 anos, e há quase 10 anos com Gilberto Gil, o que me fez mais ‘baiana’ ainda.
Devo a Salvador momentos lindos de minha vida e de minha filha, outra baiana de coração, desde que nasceu, há 23 anos. Acho que em tudo isso tem a mão generosa de Vinicius. Sempre que posso vou a Itapuã pra ver a bonita escultura dele que fica numa pracinha e traz ele sentado com uma mesinha ao lado onde repousa um copo! Gosto de me sentar na outra cadeira e seguro a mão da escultura e penso muito nele e em como ele adoraria estar mesmo ali.
E eu mais ainda. Como gostaria de rever a Bahia ao lado dele novamente!
Tenho ainda Yeda e Adailto Almeida, irmãos que conheci quando trabalhava na Polygram e que permanecem meus amados amigos até hoje. Eles são produtores dos melhores shows da cidade e amados por todos os artistas e amigos que têm a felicidade de conviver com eles. Portanto, é uma legião de baianos da melhor qualidade que herdei de Vinicius e outros que conquistei.
Vinicius se sentia em casa nesta cidade abençoada pelos deuses e devia a ela momentos de rara inspiração, como na linda canção Tarde em Itapuã. Vinicius tem toda razão. E agora, que celebramos o seu centenário, que bom que o CORREIO lhe presta esta minha homenagem.
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