Texto escrito por Roberto Freire (psiquiatra e
escritor brasileiro), colaboração de Talita Batista.
Quero dizer que te amo só de amor. Sem idéias,
palavras, pensamentos. Quero fazer que te amo só de amor. Com sentimentos,
sentidos, emoções. Quero curtir que te amo só de amor. Olho no olho, cara a
cara, corpo a corpo. Quero querer que te amo só de amor.
São sombras as palavras no papel. Claro-escuros
projetados pelo amor, dos delírios e dos mistérios do prazer. Apenas sombras as
palavras no papel.
Ser-não-ser refratados pelo amor no sexo e nos sonhos
dos amantes. Fátuas sombras as palavras no papel.
Meu amor, te escrevo feito um poema de carne, sangue,
nervos e sêmen. São versos que pulsam, gemem e fecundam. Meu poema se encanta
feito o amor dos bichos livres às urgências dos cios e que jogam, brincam,
cantam e dançam fazendo o amor como faço o poema.
Quero da vida as claras superfícies onde terminam e
começam meus amores. Eu te sinto na pele, não no coração. Quero do amor as
tenras superfícies onde a vida é lírica porque telúrica, onde sou épico porque
ébrio e lúbrico. Quero genitais todas as nossas superfícies.
Não há limites para o prazer, meu grande amor, mas
virá sempre antes, não depois da excitação. Meu grande amor, o infinito é um
recomeço. Não há limites para se viver um grande amor. Mas só te amo porque me
dás o gozo e não gozo mais porque eu te amo. Não há limites para o fim de um
grande amor.
Nossa nudez, juntos, não se completa nunca, mesmo
quando se tornam quentes e congestionadas, úmidas e latejantes todas as nossas
mucosas. A nudez a dois não acontece nunca, porque nos vestimos um com o corpo
do outro, para inventar deuses na solidão do nós. Por isso, a nudez, no amor,
não satisfaz nunca.
Porque eu te amo, tu não precisas de mim. Porque tu me
amas, eu não preciso de ti. No amor, jamais nos deixamos completar. Somos, um
para o outro, deliciosamente desnecessários.
O amor é tanto, não quanto. Amar é enquanto, portanto.
Ponto.
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