Texto bem humorado, escrito pelo professor Luiz Magalhães
Atendendo às
recomendações expressas do meu cardiologista, que o melhor remédio para as
coronárias é a caminhada, lá vou eu marchando em trote lento minha cota diária
de 6 km.
Para
reforçar essas convicções, fiz uma reciclagem do Taoísmo, cuja doutrina afirma
categoricamente que o segredo da longevidade reside no caminhar. E se o caminho
se faz ao caminhar, há dois anos estou caminhando, caminhando sem parar,
tirando a diferença de tantos anos sem caminhadas.
Eis que
surge um fato inesperado. Formou-se um “calo duro” na sola do pé esquerdo.
Entre procurar o cirurgião Edson Batista, dileto amigo e competente
profissional para essa pequena intervenção cirúrgica e a minha vizinha Dona
Lina, mulher de muitos saberes e fazeres optei pela solução caseira. Munida de
uma agulha de costura número dois, abriu uma pequena incisão indolor no centro
da calosidade, de onde retirou um fragmento de cristal lenticular esverdeado e
romboédrico, semelhante a uma siderita. Ali estava à razão da incomoda
calosidade, segundo explicações da minha cirurgia amadora.
Uma
dúvida nos invadiu. Como aquele objeto estranho foi se alojar no meu pé, se não
ando descalço?
Guardei
com todo cuidado aquele aparente silicato para uma investigação científica mais
à frente. Por recomendação da digna senhora, para dissolver o tecido morto que
restou da escoriação, recorri à farmácia mais conceituada da cidade em busca da
pomada Minâncora e da Pyralgina (aquelas gotas mágicas que matam a dor sem
matar o sofredor). Para surpresa minha fui informado pelo balconista, que tais
medicamentos deixaram de ser fabricados a partir de 1940. Eram do tempo em que
farmácia se chamava Pharmacia.
Deixei
o calo de lado e transferi minhas preocupações para o misterioso mineral. Nos
meus estudos de mineralogia nunca tinha visto nada semelhante. Só um exame
microscópico mais sofisticado poderia dirimir minhas dúvidas. Recorri ao
Laboratório Pedra Verde e expus o problema ao bioquímico Paulo Klem. Depois de
exaustivas observações e especulações com seu possante microscópio de última
geração, concluiu com o seguinte laudo técnico: É um mineral
petrograficamente sui-generis, cristalizado nas singonias monoclínica e
rômbica, em formas mui similares, constituindo a série dos piroxênios.
Refração bastante elevada e radioatividade próxima da “uranita”.
Birrefringência mediana e pleocroísmo muito débil.
É
raríssimo na Terra! Como isso foi parar no seu pé, não encontramos nenhuma
explicação científica plausível!!! Afirmou o analista bioquímico Paulo Klem,
meio preocupado.
Intrigado
com o inusitado fenômeno percorri as instituições científicas da nossa cidade
sem encontrar esclarecimentos. Levei o material ao astrofísico Sergito
Folicular que garantiu não ser conseqüência do Big-Bang, podendo ser um
fenômeno sobrenatural.
Não
satisfeito com as dúvidas, passei o problema para o cientista da Pesagro,
Rogério Magalhães que levantou as seguintes hipóteses:
_ “Ou é
um fragmento de um satélite chinês que desgovernado acabou caindo na Terra, ou
foi um ET que entrou sorrateiramente na sua casa, enquanto você dormia e
implantou esse estranho fragmento no seu pé. Uma espécie de marcador genético!
_Ah!
Luiz Magalhães
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