segunda-feira, 9 de abril de 2012

Conversê entre os primos ecléticos Talita e Sergito Folicular


 SERGITO FOLICULAR:



Oiiiiiiii !!

"Ontem", aquí  no Brasil, com 90 milhões  em ação, era  mais fácil
essas  reuniões (para  os  privilegiados).  "Hoje", também, mesmo
com 190 e tantos milhões, mas só para os privilegiados como nós,
né?
Acabei de  passar ótima semana de 4 dias com  a família e alguns
amigos, papeando, bebericando  vinhos  e comendo o que quis, lá
na prainha chamada Grussaí. Tirei fotos da natureza, caminhei, me
banhei na lagoa de "Iguiparí", pesquei e mergulhei no marsão meio
esverdeado.
Resumindo : com essa miséria de salário mínimo, com doenças e,
por conseguinte, sem a  fé necessária, é  dificíl...difícil...impossível.
O que comanda o nosso mundo, logo de frente, é o dinheiro e o se-
xo, capice?
Aceitaria opiniões  suas, para a minha evolução física e espiritual.

Ah!  Aprecie minha  mangueira e um pequeno  arco  iris que se for-
mou no interior da garagem, pela refração da luz do Sol, por dentro
das gotícular de água retidas nas folhas do lado esquerdo da foto.
Achei  uma visão "celestial".
   Abraços mil. 
 
TALITA BATISTA:

Oi meu querido primo Sérgio Armando!
Você tem razão quando relaciona a estrutura familiar à uma infra-estrutura econômica. Karl Marx já relacionava essa idéia aos interesses burgueses.
Temos que concordar que somos impregnados de mitos e ideologias que deformam nossa maneira própria de ver e interpretar a organização desse nosso mundo, não é mesmo? Tanto que a idéia da família,  por exemplo, junto com sua forma de organização e representação, foi uma construção histórica que foi evoluindo, no decorrer dos tempos.
Esses conceitos, seja da família, a visão da própria Infância, a visão do casamento, da maternidade e tantos outros são construções históricas, que a gente incorpora dentro das instituições, como a Igreja, a família, e mesmo, a própria escola, que se constituem em aparelhos ideológicos, que vão "fazendo as cabeças" de todos nós. Bourdieu, um sociólogo francês, no seu livro "A Reprodução", chama a esse fenômeno de "Violência Simbólica", em que se desvaloriza e busca até mesmo anular os valores populares nessas instituições estabelecidas, e que tanto valorizamos.
Um livro considerado clássico, para ler sobre essa questão, ouso sugerir: "História Social da Criança e da Família", de Phlippe Ariés, da editora LTC.
Sobre a questão a liberdade feminina, indico a leitura de: "A Sujeição da Mulheres", de Stuart Mill. Imagina que este pensador revela que o casamento é a pior forma de limitação da mulher, pior mesmo do que a escravidão antiga, porque no sistema escravagista, o senhor exigia apenas a servidão, pelo trabalho. O marido impõe e cobra a escravidão dos seus próprios corpos e, pior ainda, dos seus sentimentos. É uma grande obra! Stuart Mill não teve, como se pode constatar, o prestígio, por exemplo, que seu contemporâneo Jean Jacques Rousseau, no seu livro "O Emílio" ou Da Educação. Rousseau defende, nesse livro, que é um tratado educacional, que a Educação deve ser diferenciada, já que a Sophia deve ser educada para satisfazer ao Emílio, em todos os sentidos. Ela deve ser dócil, meiga, subordinada e até defensora dos interesses do marido, para ser digna, respeitável e feliz. Daí podermos concluir o óbvio, porque Stuart Mil foi muito menos divulgado e suas idéias muito menos aceitas.
Outra autora que eu gosto imensamente, mas que contrasta com todas essas idéias que temos na nossa cabeça chama-se Elisabeth Badinther. Nossa!... Essa é demais, meu primo querido! Um livro seu que considero de primeira linha, intitula-se "O Mito do Amor Materno, Um Amor conquistado". Este explica a evolução das atitudes femininas em relação à maternidade. E os bons leitores, com certeza, se surpreenderão ao ver que o amor materno não é necessáriamente um desejo feminino.
Outro livro interessante para refletirmos sobre a questão da cidadania do homem e da mulher, posso indicar um livro de Joan W. Scott, uma historiadora americana, intitulado: "A Cidadã Paradoxal", que trata do testemunho das feministas francesas, como Olympe de Gouges, Jeanne Deroin, Hubertine Auclert e Madeleine Pelletier, da época da Revolução Francesa, em relação aos direitos do homem.
Nessa linha, tem um livro também, que acho maravilhoso, chamado: "Palavras de Homem", também de Elizabeth Badinther, baseado numa pesquisa que a autora fez em cima dos discursos dos parlamentares franceses, mesmo após a Revolução Francesa, um país que levantou a bandeira da "Igualdade, Liberdade e Fraternidade", que precisou tanto do apoio das mulheres, na luta pelos direitos humanos (chamados Direitos do Homem) e que, a história mostrou, que apesar da dissimulação velada, os direitos eram do homem mesmo, apenas aquele representante do sexo masculino, que tem o pênis, como comprovação de sua masculinidade.
Bem, primo, li e concordo plenamente com todas essas idéias contidas nesses livros de vanguarda, mas, pessoalmente, defendo e respeito muito a liberdade de cada pessoa de optar pela vida que melhor lhe convém, na construção de sua própria felicidade. Penso que a vida é muito curta, e por questões de honestidade, podemos defender idéias, sem, necessariamente, termos que incorporá-las nas nossas próprias experiências pessoais.
Como sabe, sou "casamenteira", acho bom quando se consegue ter uma companhia, para partilhar o cotidiano, já tão tumultuado. E tudo é uma questão de opção mesmo, não é? Cada um tem o direito de procurar viver como melhor lhe convém, desde que respeite as outras opções de vida. Pessoalmente, procuro viver a vida, sempre que tenho oportunidade, de adotar, para mim, um estilo tradicional, de família, de casamento, de tentar ser uma mulher meiga, carinhosa, sem interpretar isso como uma escravidão. Isso me dá muito prazer ser assim. E, tive sorte de ser poupada até agora, pois encontrei parceiros que me respeitaram. Mas entendo que tudo tem um limite e cada um sabe o que melhor lhe convém.
Peço que me desculpe se fiquei prolixa na minha exposiçao, mas delegue isso também à minha dificuldade de alcançar uma linguagem sintética.

Beijos


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