quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Só um Cadinho Mió


     Serra do Cipó: Monumento ao caboclo mineiro

 
Poema concretista, de autoria do Padre Élcio José Toledo

Contribuição de Carlos Alberto Tanus

Já rodei muito na vida,
Quase o Brasil inteiro
Estradas do norte e do sul
Sem ter nenhum paradeiro.
 Mas vou contar uma coisa
E nisso sou bem verdadeiro
 Se o mineiro sai de Minas
Minas nunca sai do mineiro

 E não pode sair mesmo
 Digo de um jeito maneiro
 Depois de conhecer o Brasil
 Eu posso dizer bem faceiro
 Que quem conhece Minas,
 Conhece o Brasil inteiro
 E orgulhar-se de ser de Minas
 É orgulhar-se de ser brasileiro.

 Veja o Norte de Minas
Igual a cearense Icó
Tanta seca e pobreza
Que faz qualquer um sentir dó
Aquele calor e secura
 Lembra o sertão Seridó
 Ali é praticamente o Nordeste.
Só que "um cadinho mió"

 Sim, Minas também tem nordeste
Jequitinhonha, dizia minha avó.
Gente aguerrida e guerreira
Que sempre aguenta o jiló
Mas que sabe descansar sossegado
 Pescar, esperar o anzol.
Parece o povo baiano
 Só que um "cadinho mió".


Mas é no vale do Mucuri
Que a terra parece de um faraó
 Lá tem gente honrada e honesta
Que não vai para o xilindró
Lá o pessoal aproveita de tudo
Dá valor até ao mocotó
Parece muito a Paraíba
 Só que é um "cadinho mió"

E o povo do nosso Rio Doce
Povo moreno queimado do sol
Mas que trabalha na terra
Quieto poupando o gogó
Naquelas terras bonitas
Canta alegre o curió
 É um pedaço do Espírito Santo
Só que um "cadinho mió".

 E na zona da Mata
 Antes, lá era o cafundó.
Hoje tem gente que pensa
Que lá só é festa: samba, baião, carimbó
Mas lá se trabalha bastante
Não pense que é só futebol
Lá é igual o Rio de Janeiro
Só que um "cadinho mió".

 E o nosso sul de Minas
 Perseverante como o profeta Jó
 Gente que não teme o trabalho
 Num labor de sol a sol
Terra de gente importante
 Vestida de gravata e paletó
 Parece o povo paulista
 Só que um "cadinho mió".

 E o povo cafeeiro
Com os pés sujos de pó
Não têm medo de nada
Neles ninguém dá o nó
Café com leite no Brasil
 É o nosso grande xodó
 Parece o sul de Brasil
Só que um "cadinho mió"

O povo do Triangulo
Que usando um braço só
 Derruba um boi pelo chifre
Faz dele um simples totó
È um povo esperto e matreiro
Que não perde tempo fazendo filó
Igual o povo do Mato Grosso
Só que um "cadinho mió".

E nas nossas Cidades Históricas
Tudo no estilo rococó
lugar de gente ilustre
Tiradentes, Juscelino, Zé Arigó
Terra de revolução e de luta
 Inconfidência, revolta, quiproquó
 Poderia ser a capital do país
Só que um "cadinho mió"

E no Alto Paranaíba
Café, pães de queijo e de ló
De frutas gostosas, o abricó
 Lugar de aves campeiras
 A ema, o pavão, o carijó
Lugar de festas famosas
Rezas, danças, forró
Parece muito Goiás
É só um "cadinho mió".

 Se em Minas está o Brasil
Em Belo Horizonte, o Brasil é um só
 Mineiro de todos os lados
Juntos, amarrados com grande nó
Aos pés da serra do curral,
 Pertinho da serra do cipó
 Não deve nada pra nenhuma capital
Só que a nossa é MUITO E MUITO MIÓ.

                Poeta Mineiro o rei da poesia brasileira moderna
                                       Carlos Drummond de Andrade

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