quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Homenagem de Sávio Gomes a Rinaldi José Faes Rodrigues


Um dos personagens desta crônica, o Rinaldi José Faes Rodrigues, faleceu ontem, vítima de um acidente, após a explosão de um tanque de gasolina e vários dias internado. Dedico em sua memória esta modesta crônica. Um grande abraço a todos!

1966.
Sávio Roberto Moreira Gomes
27/10/2010
No livro da estante encontro uma ficha com minha assinatura e a data "1966".
Esforço-me para tentar lembrar qualquer coisa relacionada aquele ano, mas me surpreendo em saber que além da data, são vagas as lembranças.
Só me lembro que eu tinha 18 anos, trabalhava como locutor numa rádio católica de minha cidade, estudava no Liceu de Humanidades de Campos, e estava vivendo a minha primeira grande paixão amorosa.
Gostava de fazer longos passeios de bicicleta, ia sempre à Lagoa de Cima, e fui algumas vezes à Atafona, a maioria das vezes, sozinho. Ir à Atafona naquela época, significava enfrentar 40 quilômetros de estrada "de chão", mas também tinha o sentido de um "rito de passagem".
Meu pai e os meus tios tinham muitas vezes feito este mesmo percurso. Ir à Atafona, de bicicleta ou a pé, virou uma espécie de "hábito de família", e denotava "capacidade e força", algo assim.
Aos poucos, a memória foi ampliando um pouco mais, e aí surgiram a "Lambreta LD-50" e a "Vespa MI-3" do meu pai, na qual eu usava bastante. Também íamos às nossas pescarias, eu, meu pai e o meu irmão, às vezes também o Quincas, nosso amigo de infância e juventude.
Poucas as lembranças, escondidas ou perdidas nos porões da mente, empoeiradas por detrás dos neurônios!
Naquela época, vivia metido dentro dos cinemas! Ainda não tínhamos uma TV, o que só aconteceria em fevereiro do ano seguinte, presente da minha tia Mercedes.
Ah, sim! Vem agora à luz, algumas importantes lembranças! Meu pai e sua tesourona cortando os tecidos que se transformariam em suntuosos e perfeitos ternos de seus fregueses! Ternos completos, com direito ao "colete", tudo feito na mais precisa "marca de giz"!Ah, como eu me sentia "importante" em montar na "Gulliver" e ir comprar os "aviamentos" na Casa Brasil!
Na outra parte da sala, a "Singer" da minha mãe, fazia quase um dueto com a "Pfaff" do meu pai! As duas máquinas de costura tinham "timbres" diferentes, mas acabavam por entrar em "cadência", uma mais "grave" e a outra, mais leve, mais pro "agudo"...
Caindo mais um pouco do pó da memória, surgem as tardes de domingo, onde vários amigos que se apresentavam na Rádio Campista Afonsiana, nos programas de auditório, iam todos pra minha casa. Waldir de Souza, "O Trovador da Planície", o sobrinho dele, Ismael, o Joaquim José, o "Kiri" e muitos outros!
Foi nesta época que o meu irmão Sérgio Máximo deu seus primeiros passos no violão! Curiosamente, a minha irmã Sílvia, que estudava acordeon, não tocava conosco, mas, a minha irmã Suely gostava da cantar, e muito bem, por sinal.
Pensando bem, os meus pais eram bem tolerantes, e nunca reclamaram, nem mesmo quando eu resolvia fazer um "baile" em casa, com a radiola emprestada pelo companheiro de rádio, o Rinaldi, a todo volume!
É mesmo! Naquela época, era muito comum os bailes "em casa de família", e como juntava gente, muitos, verdadeiros "penetras"! Nada posso falar, pois eu mesmo fui "penetra" em muitos destes bailes, e em algumas vezes, tive que "sair batido", para evitar confusão.
Apesar de ser um período de grandes dificuldades financeiras para a minha família, vivíamos felizes! Hoje me dou conta, que grande parte disto tudo tinha por fundamento a estreita e harmoniosa relação afetiva dos meus pais!
Vivíamos tão juntos e tão afetivamente, que nem nos dávamos conta da absoluta tranqüilidade em que vivíamos.
Era uma vida completamente simples, sem nenhuma possibilidade de sobressaltos!
A rotina familiar quase sincrônica, as visitas de meus avós paternos sempre após a missa de domingo, o ir e vir dos netos também à casa dos avós!
Recordo-me agora dos pássaros que visitavam o nosso quintal! Sanhaços, sabiás, tiês, coleiros, tizius, e tantos outros, que sem perceber como, desapareceram!
1966, por assim dizer, não me parecia muito diferente dos anos anteriores! O "progresso" era bem lento naquele período, e mesmo jovens da minha idade, ainda guardavam muito do "menino" de pouco tempo antes!
A rua em que morava foi mudando de modo tão sorrateiro, que nem percebi! Só sei que "mudou" por uma visão de agora!
Não sei se eu tenho uma foto de quando eu tinha 18 anos! Talvez tenha alguma, de uma carteira de estudante, coisa assim. Não era muito fotografado, e por uma "mania" pessoal, evitava as máquinas fotográficas...
1966! Um ano dentro de já tantos anos da minha vida!
De um tempo em que eu não fazia conta do próprio tempo, como se o mesmo fosse eterno e imutável!

__Mas, hoje vejo, até a minha assinatura não é a mesma!






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