Texto publicado no Jornal “Monitor Campista”, no dia
30/06 e 01/07 de 2001, mas atual e urgente, até os últimos dias.
Autora: Talita Tavares Batista Amaral de Souza,
Pedagoga e Mestre em Sociologia, pelo IUPERJ; professora do ISEPAM (hoje
aposentada) e UCAM/Campos.
A cada dia aumenta, entre nós, a
convicção de que estamos, todos, envolvidos em uma sociedade, onde impera o
crime organizado, a subversão, a violência generalizada, sob todas as formas. A
mais grave constatação, porém, é a chamada violência branca, uma forma
banalizada, corriqueira, cotidiana, muito mais sutil, passando despercebida,
como se apenas resultasse da “ordem natural” das coisas. O perigo é que não a
identificamos como resultado da ação humana internacional e pertencente a um
jogo de interesse de um determinado grupo social.
Exemplo desse tipo de violência
acontece quando assistimos, considerando como situações naturais, a cenas
dramáticas nas ruas, nos noticiários ou em programas de TV, nas novelas, nas
letras das músicas populares: quando testemunhamos, passivamente, o modo impróprio,
desrespeitoso e criminoso com que se trata a natureza; quando cruzamos os
braços diante dos altos índices de analfabetismo político, da exclusão social,
da evasão escolar e da repetência nas escolas.
O convívio habitual e rotineiro,
com várias formas de discriminação, com a marginalidade, autoritarismo e
arbitrariedade, nos entorpece, tornando-nos insensíveis e indiferentes a essas
aviltantes questões sociais e humanas. Vez por outra, porém, somos tomados por
uma onda de entusiasmo e esperança. Poderemos encontrar uma saída, mesmo no
breu em que nos encontramos? Acreditamos que só Deus, como Força-Maior, poderá
guiar-nos, fortalecendo os elos entre a família e a escola, nesta busca de
soluções, iluminando nossa caminhada.
Num gesto mais concreto, julgamos
precisar buscar mais fôlego na claridade do passado, através de exemplos dignos
e modelares, para suportarmos o presente e não perdermos, totalmente, a fé no
futuro. É preciso lutar pela eternidade dos valores, universais, por sua
grandeza em si mesma, enquanto essência da ação humana. Precisamos crescer! Crescer
na nossa capacidade de amar, de respeitar e garantir o direito à cidadania
plena para todos os cidadãos, especificamente para todas as pessoas
pertencentes à nossa comunidade.
A busca de uma sociedade mais justa
depende da implementação de mecanismos democráticos para o exercício do poder.
A História de Educação do Brasil nos mostra que esse poder político sempre
esteve a favor dos interesses de uma elite, desde os primeiros anos do domínio
português. Nesse contexto social, a Educação escolarizada só era conveniente à
camada dirigente. Sendo, naquela época, os jesuítas os únicos educadores de
profissão, buscavam, desconsiderando a cultura indígena, catequizar e formar
intelectualmente os índios, além de receberem subsídios pela educação de os
filhos dos colonos portugueses, formando a elite colonial brasileira.
Mesmo após a expulsão da Companhia
de Jesus de Portugal e do Brasil, em 1759, o sistema educacional brasileiro
continuou articulado em torno da transmissão de conteúdos acríticos e
pré-fixados, constituindo-se num instrumento de manutenção das estruturas
sociais e políticas vigentes.
Somente após a Primeira Guerra Mundial,
por volta de 1930, com novos sistemas, ideologias opostas e crises econômicas
mundiais, com o crescimento da população brasileira, a diversidade de classe,
as quais adquiriram consciência de seus limites, surge o jogo antagônico de
forças políticas educacionais conservadoras (a favor dos interesses de uma
elite) e modernizadoras (voltadas para a questão da extensão na Educação
Pública), notando-se, marcadamente, o predomínio daquelas.
Entendemos que o poder público deve
resguardar a dívida histórica, possibilitando a todos os estudantes, o
usufruto, no presente, de um padrão de cidadania, com Educação Escolar de
qualidade, em todos os graus, vista como uma referência, um dever do Estado,
direito de todos os cidadãos, não apenas como um privilégio de alguns. É
preciso resgatar essa dívida social, em função do regime escravocrata vigente
no país até 1888 e dos regimes socialmente excludentes que o seguiram. É
mister, no entanto, estarmos preparados para reivindicar, com segurança e
firmeza, no sentido de responder a esse desafio que se nos apresenta:
democratizar a Educação, sem dúvida, porém sem abrir mãos de sua qualidade.
Somente procurando estudar a
realidade social vivida, de modo científico, a forma de organização de nossa
sociedade e as relações sociais nela inseridas, analisar os meios e os fins a
que nos propomos com a nossa prática educativa, teremos condições de denunciar
as distorções do processo educacional, traçar o diagnóstico, para buscarmos a
realidade desejável, com que tanto sonhamos.
Faz-se necessário e urgente
repensarmos nossa ação pedagógica inserida no contexto social, histórico e
político, tomarmos posições, de maneira consciente, para que, juntos – alunos,
professores, pais, enfim, toda a comunidade, em geral, se permita buscar e acreditar na conquista deste ideal: um
mundo mais humanizado e solidário.
Concluindo essa reflexão, podemos
ratificar o pensamento de Bertold Brecht, pois acreditamos, como ele, que:
“Quando a gente sonha, tem apenas um sonho. Mas, quando muitos sonham, a realidade
acontece”.