Texto escrito por Áurea Magalhães de Sousa
Do aeroporto ao Hotel
Roma em Lisboa, fomos conduzidos por um funcionário da Lusanova que nos recebeu
dando as boas vindas em Portugal. Rapaz educado, atencioso, muito gentil e com
o português bem entendido por nós. Sentimos que estávamos em casa. Durante o
percurso ele mostrou-se amável e já adiantava algumas informações, inclusive
que um guia estaria nos esperando na
porta do hotel.
O grupo ainda estava se
formando no hotel, quando eu, Vera, o casal Floripa e as cariocas resolvemos
nos adiantar fazendo um tour pela
cidade com outra empresa.
Fomos recebidos por um
português, que falava rapidamente, com voz grossa e de difícil compreensão. Um
brasileiro, educadamente, pediu para ele falar mais devagar. Mas a resposta foi
grosseira: _ Vocês não sabem falar português.
Todos ficaram
assustados com a reação daquele senhor. Pensei que seria muito fácil para
comunicarmos na mesma língua, mas nem sempre foi assim. Achei a nossa maneira
de falar mais alegre, tranquila, sonora e compreensível.
O português continuou
resmungando alguma coisa e mal humorado deixou a entender que não gostava mesmo
de se comunicar com os brasileiros.
Outro brasileiro se
desculpou e pediu para ele repetir o que havia falado. Exaltado, ele nos
surpreendeu com a resposta: _ Já falei e não vou repetir.
Não queríamos acreditar
no que ouvimos e começamos a sentir que estávamos sendo desprestigiados. E
perguntei para Vera:_Qual língua falamos?
Vera sem pestanejar e
com muita personalidade falou alto e em bom tom para todos que quisessem ouvir:
_ Falamos a língua brasileira!
Fiquei a pensar como
bagunçamos a nossa língua, a ponto de não entendermos os nossos irmãos
portugueses. Uma brasileira sentindo-se ofendida deu o troco para aquele
senhor: _ Aprendemos a falar o português com vocês. Nosso professor foram os
portugueses presidiários, sem instrução,
que mandaram para colonizar a
nossa terra.
Outra conterrânea
também contagiada pelas emoções, acrescentou: _Levaram o nosso ouro e a nossa madeira.
_ E o seu rei, que
fugiu de Napoleão e foi se refugiar no Brasil!...
Uma carioca completou:
_ Quer pior exemplo que Dom. Pedro l?
E assim os nossos
companheiros rebatiam os argumentos daquele senhor. Mas quando ele ouviu falar
em D. Pedro l, deu a sua investida rancorosa e nos provocando falou: _ Vocês
não sabem nada, tudo errado. Ele nunca foi Pedro l, ele é Pedro lV.
Foi aí que Vera,
procurando acalmar os ânimos e como pedagoga deu a sua aula: _ Senhor, o Brasil
era uma monarquia e D. Pedro l foi o nosso primeiro príncipe, se ele era o
primeiro não podemos chamar de quarto. E a língua brasileira é o resultado de
uma miscigenação. Nós tivemos influência na cor, gastronomia, música, religião,
costumes, de muitos povos que formaram o nosso país.
O português mal
humorado ainda quis superar com os seus argumentos: _ Nós somos raça pura.
Nessa hora, Vera subiu
nas tamancas: _ Pelo amor de Deus, não me venha com essa! Foi com a paranoia de
“raça pura” que os nazistas produziram o terrível holocausto. O senhor se
esquece de que os árabes já dominaram a Península Ibérica e deixaram,
felizmente, grande marca na cultura portuguesa.
Eu já estava tirando Vera daquele bate-boca
inflamado, quando resolvi colocar um ponto final naquele blá-blá: _ Senhor,
quando tudo se mistura, tudo se completa.
Um funcionário do hotel
que a tudo assistia não agradou da atitude do guia, ligou para a Lusanova e
pediu de imediato a troca do funcionário. A nova guia não demorou muito a
chegar, se desculpou e falou que a crise em Portugal estava deixando alguns
portugueses com os ânimos exaltados.
Fizemos amizade com
muitos portugueses que atravessaram os nossos caminhos, mas os mais exaltados,
com o jeitinho brasileiro, nós fomos conquistando.
Fechamos
a nossa excursão com chave de ouro com a nossa última guia, a portuguesinha
Joana. Moça bonita, alegre, atenciosa, delicada, com bons conhecimentos e
falando a nossa língua “brasileira”. Não me esqueci de suas primeiras palavras
ao entrar no ônibus: _ Meu nome é Joana, especializada em guia de brasileiros.
Vou seguir com vocês para a Espanha. Com muito carisma ela conquistou não só os
nossos corações, mas também dos
colombianos, mexicanos, chilenos, argentinos e até de CORINTIANOS, como o nosso
paulista Manoel, que extravasou a sua alegria cantando o hino do seu timão: _
Salve o Coríntians, o maior dos
campeões...
Realmente, Joana fez a
diferença. Com a sua simpatia, com o nosso sotaque e dona de uma voz melodiosa,
se integrou com todo o grupo aproximando-nos mais e dali para frente tudo foi
festa.
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