sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A VISITA DE DOM PEDRO II




Texto escrito pelo Professor Luiz Magalhães

         Quando Dom Pedro II foi a Conservatória para inaugurar a Estação de Trem da Leopoldina Railway que ligava o Rio de Janeiro ao Oeste de Minas Gerais, a aristocracia rural da localidade, que na época se chamava Santo Antônio do Rio Bonito, se reuniu na véspera de tão honrosa visita, para discutir detalhes da recepção e como proceder no momento em que Sua Majestade, O Imperador desses Brasis, manifestasse o desejo explícito de fazer suas necessidades fisiológicas.
         Como naquele tempo os jornais da metrópole não chegavam à vila, pois ao que consta, a única pessoa alfabetizada e que sabia escrever era o Coronel da Guarda Nacional, cidadão português, Antônio Moreira Coelho de Magalhães, meu bisavô, alcaide e escrivão do povoado, dono das duas melhores fazendas e de muitos escravos, ficou com a incumbência de hospedá-lo na sua residência de dezesseis quartos e um amplo salão ainda existente e preservado.
         Com relação à higiene pessoal do Imperador, as lideranças locais acharam que não seria de bom alvitre oferecer a Sua Alteza um imponente sabugo de milho ou mesmo folhas de bananeira, pois papel higiênico é coisa da modernidade.
         Na discussão, o Comendador Onofre teve a brilhante idéia, submetida e aprovada em Assembléia Geral dos Fidalgos, de se colocar um escravo de plantão permanente, munido de um balde de água com sabão e pétalas de rosas e uma brocha, agachado dentro da cova, tendo como assento o caixote de bacalhau do Porto, com a incumbência de fazer a assepsia da pudenda região do ilustre visitante.
         Depois de muitos discursos de saudações, foi servido um lauto almoço onde não faltou a tradicional leitoa mineira bem tostada, acompanhada de feijão tropeiro e torresmos ao queijo parmesão, nada mais natural que Sua Majestade fosse acometida de uma forte diarréia.
         _ Onde eu faço cocô? Perguntou discretamente aos ouvidos do anfitrião, Dom Pedro II.
         Acompanhado pelo José Nossar, ilustre fidalgo da vila, Sua Majestade se dirigiu à “casinha”.
         Terminada a expulsão dos excrementos reais, o escravo entrou em ação com a brocha encharcada de água espumosa e perfumada com pétalas de rosas, lavando com esmero o “fusquete” do espantado Imperador.
         _ Tempos modernos, meu caro Nossar! Vou levar essa novidade, esse avanço tecnológico para a Corte! – disse Dom Pedro II.
         Segundo explicações do Imperador, na Corte, ainda era hábito o uso das folhas secas de bananeira, grande descoberta que Cabral levou para Portugal.
         Quando Cabral desembarcou aqui na Terra de Vera Cruz, entre muitos surpreendentes “achamentos” por essas bandas e, que, lhe causou mais admiração foi a bananeira. No retorno a Portugal, relatou para El Rei Dom Manuel I:
         _ Tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual bem certo creia que, para aformosentar nem afear, aqui não há  de por mais do que aquilo que vi e me pareceu . De todas as coisas que encontrei que, me pareceu de mais utilidade para a Coroa, foi sem dúvida a bananeira.
         Estava eu Vossa Alteza, num domingo de Paschoela, entre oito e nove horas da manhã observando o mar quebrar na costa, quando de repente, com a devida licença de Vossa Alteza, fui acometido de uma forte dor de barriga. Dirigi-me ao “mato” como é costume das pessoas civilizadas, tomando o devido cuidado para que os “bugres e os tripulantes do navio não vissem expostas as “minhas vergonhas”. Escolhi uma formosa árvore até então minha desconhecida nas expedições que comandei para Vossa Alteza, para me ocultar. Enquanto aliviava os meus intestinos, uma preocupação terrível se passava em minha cabeça. Como me assear depois daquele ato? Já ia usar o barrete vermelho que cobria a minha cabeça quando me ocorreu a luminosa idéia, Vossa Alteza. Que tal usar as folhas dessa árvore? Confesso a Vossa Alteza que uma preocupação me ocorreu na hora. Será que ela arde como urtiga? Num ato heróico experimentei aquela folha, Vossa Alteza, e para surpresa minha ela deslizou suave e macia. Com as minhas desculpas, salvo equívoco, creio Vossa Alteza que fiz a maior descoberta para o Vosso Reino. Acredito que tais folhas poderão fazer muito sucesso na Corte francesa carreando divisas para o Vosso Reino.
         De regresso ao Rio de Janeiro, Dom Pedro II, em carta, manifestou regozijo pela recepção e promovendo Santo Antônio do Rio Bonito como cidade, muito freqüentada por turistas devido ao seu clima ameno. No governo de Getúlio Vargas, Conservatória foi rebaixada a distrito de Valença.
         Belos tempos. Tempos românticos que não voltam mais. Pilões, realejos, lampiões, fogão de lenha, charretes, carros de boi, saraus, cantigas de roda, tudo ficou num passado que eu ainda alcancei.

                                     Luiz Magalhães


Nota explicativa – Meus ancestrais portugueses e ingleses desembarcaram  no porto de São João da Barra. Depois de alguns anos mudaram para Piraí e posteriormente Conservatória. Como Yvany e suas amigas foram conhecer Conservatória, não tive tempo de contar muitas histórias sobre a vila onde morei.
        
              

2 comentários:

  1. Luiz Magalhaes, seu bisavô Anonio Moreira Coelho de Magalhães era irmão de meu bisavô Benjamim Moreira Coelho de Magalhães. Eu gostaria de conhecê-lo.

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  2. Luiz Magalhães,gostaria muito de saber se o seu bisavô Antônio Moreira Coelho de Magalhães era irmão do meu bisavô Benjamim Moreira Coelho de Magalhães e se tem conhecimento dos outros irmãos.Teria o maior prazer em te conhecer.

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