Texto esrito por Néliton Azevedo
Universidade Federal Fluminense
O povo
venezuelano, apesar da intensa campanha difamatória e dos alarmas de “fraude”
reelegeu ontem Hugo Chávez ao seu terceiro mandato.
A
reeleição foi artifício colocado na América Latina, em inícios dos anos 90,
para dar continuidade ao projeto neoliberal de desmonte das infraestruturas
nacionais em favor das grandes corporações multinacionais. O processo é
simples:
1.
elege-se alguém semi-desconhecido ou “de esquerda”,
2. esse,
vitorioso, esquece seu passado, que talvez nunca tenha existido, e segue à
risca a agenda neoliberal, rebaixa salários, dá liberdade ao capital
estrangeiro, vende a preços módicos toda a estrutura do país,
3. em seguida
usa a máquina do Estado para se reeleger, com apoio da mídia, com algum
“dinheiro extra” vindo do exterior e muita corrupção e desvios,
4.
reeleito, age mais livremente para terminar o desmonte do Estado e jogar seu
país à mercê e ao serviço dos “grandes”,
5. e,
depois, continua a usar a máquina do Estado – ou do que sobrou dele – para
“fazer o seu sucessor”.
Mas, a
reeleição trouxe, ao menos na Venezuela, resultados indesejados à direita. Na
Venezuela serviu para eleger um candidato popular extremamente estimado por seu
povo. Por vezes a campanha eleitoral lembrou o Chile de Allende e a Unidade
Popular, que, daqui a um ano, completa 40 anos do golpe militar que o esmagou,
afogado em sangue.
Amigos
venezuelanos afirmam que o candidato da direita, Capriles, recebeu rios de
dinheiro como “ajuda desinteressada” das grandes empresas multinacionais.
“Ajuda humanitária”, sem dúvida. Nadava-se em propaganda do candidato Capriles,
distribuída nas ruas de Caracas. As TVs privadas, alarmadas com as prévias estatísticas
que apontavam a derrota de “seu” candidato, anunciavam o fim do mundo, o caos,
a chegada do anti-cristo, o armagedom, o dilúvio, a peste negra, pragas
apocalípticas, tsunamis, tudo junto.
No mundo
inteiro a mídia se armou da farsa de prever um empate técnico e depois afirmar
que houve fraude. Capriles, o candidato da direita, faria um “pronunciamento à
nação”, proclamando-se vencedor - caso os primeiros resultados divulgados
revelassem pequena diferença ou, hipótese improvável, equilíbrio. E assim,
poder-se-ia afirmar que “houve roubo”, acusar o governo e pedir “ajuda” externa
para “garantir a democracia”. Paramilitares colombianos foram detidos na
fronteira: estavam prontos para desencadear a “ação preventiva”. A Colômbia
possui OITO bases militares norteamericanas em seu território, que poderiam
prestar apoio aos golpistas, como ocorreu no Paraguai de Lugo. A base militar
americana do Panamá foi colocada em alerta. Os EUA enviaram para a Região
centrocaribenha a IV Esquadra naval de guerra. Mas, falhou. A diferença das
urnas é tão volumosa que inviabilizou essa conhecida técnica golpista. Obama
marcou uma reunião de emergência com o Departamento de Estado, Angela Merkel
“lamentou”, Telaviv afirmou que o “preço do petróleo poderá subir”.
Quem é
Capriles Radonski, o candidato da oposição? Um multimilionário ex governador do
Estado venezuelano de Zulia, que esteve envolvido na tentativa fracassada de
golpe de Estado em 2002. Golden boy de Washington, Frankfurt e Londres. Nada
mudou em seu perfil, nesses dez anos, continua a sonhar com golpes triunfantes.
O povo
venezuelano teve apaixonada participação na campanha de Chavez. E votou nele em
massa – mais de 80 % do eleitorado compareceu às urnas, apesar do voto não ser
obrigatório (outra “técnica” da direita para tentar ganhar eleições sem a
participação do povo).
A
diferença eleitoral inviabilizou os planos golpistas - suas mais delirantes
esperanças não chegam a sonhar com vitórias eleitorais: Capriles foi obrigado a
admitir publicamente sua derrota. Não nos iludamos, ele não desistirá, nem
aqueles que o construíram. Não vão esperar cinco anos. Tentarão de outras
formas, todas as formas, golpes, intervenção, estrangulamento econômico,
boicote. E, ao final, se “a coisa for longe demais”, se “não houver outro
jeito”, a invasão armada. Sempre foi assim em nossa pobre América Latina todas
as vezes que um povo ousou dizer NÃO. Que Honduras e Paraguay nos sirvam de
alerta.
O governo
chavista está ciente dos gigantescos desafios que se levantam, a enorme
responsabilidade, o imenso dever internacionalista de continuar, sem esmorecer.
Avançar, e aprender, aprender sempre.
A vitória
não foi de Hugo Chavez somente, foi de todos nós, o povo. Há notícias de
comemorações até mesmo na Síria, na Grécia e na Espanha. Por todo lado, os
povos reaprendem a reconhecer os seus assemelhados.
Aprender, aprender siempre, esta es la
consigna.
Patria y vida. Venceremos.
Rio de Janeiro, 08 de outubro de 2012.
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