segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Na Venezuela, o Povo Elegeu-se a si Mesmo



Texto esrito por Néliton Azevedo
Universidade Federal Fluminense

O povo venezuelano, apesar da intensa campanha difamatória e dos alarmas de “fraude” reelegeu ontem Hugo Chávez ao seu terceiro mandato.
A reeleição foi artifício colocado na América Latina, em inícios dos anos 90, para dar continuidade ao projeto neoliberal de desmonte das infraestruturas nacionais em favor das grandes corporações multinacionais. O processo é simples:
1. elege-se alguém semi-desconhecido ou “de esquerda”,
2. esse, vitorioso, esquece seu passado, que talvez nunca tenha existido, e segue à risca a agenda neoliberal, rebaixa salários, dá liberdade ao capital estrangeiro, vende a preços módicos toda a estrutura do país,
3. em seguida usa a máquina do Estado para se reeleger, com apoio da mídia, com algum “dinheiro extra” vindo do exterior e muita corrupção e desvios,
4. reeleito, age mais livremente para terminar o desmonte do Estado e jogar seu país à mercê e ao serviço dos “grandes”,
5. e, depois, continua a usar a máquina do Estado – ou do que sobrou dele – para “fazer o seu sucessor”.

Mas, a reeleição trouxe, ao menos na Venezuela, resultados indesejados à direita. Na Venezuela serviu para eleger um candidato popular extremamente estimado por seu povo. Por vezes a campanha eleitoral lembrou o Chile de Allende e a Unidade Popular, que, daqui a um ano, completa 40 anos do golpe militar que o esmagou, afogado em sangue.
Amigos venezuelanos afirmam que o candidato da direita, Capriles, recebeu rios de dinheiro como “ajuda desinteressada” das grandes empresas multinacionais. “Ajuda humanitária”, sem dúvida. Nadava-se em propaganda do candidato Capriles, distribuída nas ruas de Caracas. As TVs privadas, alarmadas com as prévias estatísticas que apontavam a derrota de “seu” candidato, anunciavam o fim do mundo, o caos, a chegada do anti-cristo, o armagedom, o dilúvio, a peste negra, pragas apocalípticas, tsunamis, tudo junto.
No mundo inteiro a mídia se armou da farsa de prever um empate técnico e depois afirmar que houve fraude. Capriles, o candidato da direita, faria um “pronunciamento à nação”, proclamando-se vencedor - caso os primeiros resultados divulgados revelassem pequena diferença ou, hipótese improvável, equilíbrio. E assim, poder-se-ia afirmar que “houve roubo”, acusar o governo e pedir “ajuda” externa para “garantir a democracia”. Paramilitares colombianos foram detidos na fronteira: estavam prontos para desencadear a “ação preventiva”. A Colômbia possui OITO bases militares norteamericanas em seu território, que poderiam prestar apoio aos golpistas, como ocorreu no Paraguai de Lugo. A base militar americana do Panamá foi colocada em alerta. Os EUA enviaram para a Região centrocaribenha a IV Esquadra naval de guerra. Mas, falhou. A diferença das urnas é tão volumosa que inviabilizou essa conhecida técnica golpista. Obama marcou uma reunião de emergência com o Departamento de Estado, Angela Merkel “lamentou”, Telaviv afirmou que o “preço do petróleo poderá subir”.
Quem é Capriles Radonski, o candidato da oposição? Um multimilionário ex governador do Estado venezuelano de Zulia, que esteve envolvido na tentativa fracassada de golpe de Estado em 2002. Golden boy de Washington, Frankfurt e Londres. Nada mudou em seu perfil, nesses dez anos, continua a sonhar com golpes triunfantes.
O povo venezuelano teve apaixonada participação na campanha de Chavez. E votou nele em massa – mais de 80 % do eleitorado compareceu às urnas, apesar do voto não ser obrigatório (outra “técnica” da direita para tentar ganhar eleições sem a participação do povo).
A diferença eleitoral inviabilizou os planos golpistas - suas mais delirantes esperanças não chegam a sonhar com vitórias eleitorais: Capriles foi obrigado a admitir publicamente sua derrota. Não nos iludamos, ele não desistirá, nem aqueles que o construíram. Não vão esperar cinco anos. Tentarão de outras formas, todas as formas, golpes, intervenção, estrangulamento econômico, boicote. E, ao final, se “a coisa for longe demais”, se “não houver outro jeito”, a invasão armada. Sempre foi assim em nossa pobre América Latina todas as vezes que um povo ousou dizer NÃO. Que Honduras e Paraguay nos sirvam de alerta.
O governo chavista está ciente dos gigantescos desafios que se levantam, a enorme responsabilidade, o imenso dever internacionalista de continuar, sem esmorecer. Avançar, e aprender, aprender sempre.
A vitória não foi de Hugo Chavez somente, foi de todos nós, o povo. Há notícias de comemorações até mesmo na Síria, na Grécia e na Espanha. Por todo lado, os povos reaprendem a reconhecer os seus assemelhados.
Aprender, aprender siempre, esta es la consigna.
Patria y vida. Venceremos.
Rio de Janeiro, 08 de outubro de 2012.

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