quarta-feira, 28 de março de 2012

CARRO DE BOI





 Ruy Baptista

Sempre tenho (e quem não tem?)
lembrança e muita saudade
de um tempo que já se foi.
Daquela idade tão nossa
em que o povo lá da roça
usava carro de boi.

O carro, antigamente,
em todo dia de festa,
era o transporte da gente
em demanda do arraial.
A filha do fazendeiro,
naquele carro ronceiro,
era um anjo divinal.

O carreiro da fazenda,
o velho Chico da Rita,
gritava entusiasmado:
- Puxa dereito, Letrado!
Afasta, boi Camarão!
Não amarrote o vestido
da filha do meu patrão!

E o carro sereno ia...
chiando e cortando barro.
E a gente nele sentia
um cheiro quase gostoso,
um cheiro muito saudoso,
... o cheiro do boi de carro.


O caminhão jamais foi
executar um trabalho
onde esse carro de boi
não passasse o cabeçalho.

Essa condução primeira
que serviu à Pátria inteira,
vai sumindo lentamente...
Tudo ficou diferente.

- Isso é civilização??? -
Primeiro vai o trator
abrindo a terra, na frente,
e, a seguir, naturalmente,
vai o Doutor Caminhão.

Acabou-se a poesia
dos velhos carros de bois!
E só se guarda hoje em dia
a doce recordação
cuja beleza consiste
naquele chorado triste,
lamento do seu cocão.

Mas, o seu substituto
não carrega, em absoluto,
nem pode ser portador
da filha do fazendeiro,
esse anjo encantador!
- Ela, com sua beleza,
seu velho carreiro amigo,
toda candura e pureza,
o carro levou consigo.


Postagem de Talita Batista em homenagem a seu pai

4 comentários:

  1. Muito bonitos os versos do Poeta RUY BATISTA, pai da nossa eclética TALITA BATISTA! Estou aguardando agora, textos e poemas da nossa TALITA. Que venham logo!
    LuciaMarina

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  2. Lindo, Talita!!!
    Quando for publicado, faço questão de comprar o livro com as poesias de seu pai!!!!
    Adorei!
    Juju

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  3. Oi Juju!
    O livro já está na gráfica, aguardando apenas o sinal da Biblioteca Nacional, que vai mandar o seu registro. Pode deixar que não esquecerei de você. Beijos,
    Talita.

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  4. Eu espero um tempo em que o carro de boi possa voltar, porque tem seu espaço. E, possa ele conviver com as modernidades do mundo como modernidade máxima: a modernidade do simples, do não elétrico, do natural.

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