segunda-feira, 4 de março de 2013

VIDA DE EMPRESÁRIO NÃO É ESSAS COISAS!





 Texto escrito e enviado para o blog, por Agenor Magahães

Esta foi uma história cômica. Mas não podíamos sair impunes e por isso acabou nos custando caro, mais uma vez.
Aconteceu no âmbito da antiga Companhia Telefônica Brasileira-CTB, quando entramos numa concorrência para construção de torres de microondas no Estado do Rio de Janeiro. Era um conjunto de 12 construções iguais construídas em morros, nos lugares mais eqüidistantes do Estado. Apesar de termos ofertado o menor preço, a Comissão de Concorrência resolveu adjudicar-nos apenas três unidades. Ficou a promessa que, se nosso desempenho fosse razoável, poderiam aditar ao nosso contrato outro tanto de unidades. Para não perdermos a oportunidade resolvemos fazer um trabalho junto ao chefe da fiscalização, um arquiteto que já conhecíamos de outra obra da CTB em Campos que havíamos subempreitado com a Montreal Engenharia.
Estávamos, então, fazendo um trabalho de pressão junto à fiscalização para ver se levávamos mais algumas unidades das tais torres. O Dr. Caim nos dera o seu endereço, em São Gonçalo, para qualquer eventualidade.
Não perdemos tempo, eu e o Ernesto, meu sócio, resolvemos fazer uma visita “discreta” a ele num sábado pela manhã.
Chegando ao endereço, fomos atendidos por sua genitora e encetamos uma conversa amigável e ficamos sabendo alguns dados da vida particular do seu filho, destacando-se um fato que nos chamou atenção, ser o mesmo solteiro, apesar de já passado dos 40 anos. O Caim não estava em casa, jogava, naquele momento, pelo time de futebol do bairro, num campo de várzea ali próximo e a sua mãe nos indicou como chegar ao local. Tocamos prá lá. Esperávamos encontrá-lo atacando a meta adversária, mas qual a nossa surpresa ao depararmos com ele debaixo de uma das traves. Vestia vistosa camisa azul anil. Postamo-nos próximo a baliza prontos para uma “puxadinha” de saco na hora de uma defesa qualquer. O ponta adversário parece que desconfiou das nossas intenções, pois avançou célere em direção à bandeirinha de corner, enquanto o centroavante berrava qualquer coisa que não entendi. O ponta, de cabeça baixa, cruzou, o crioulo centroavante entrou arrebentando, chutou bola, grama e canela adversária. A bola passou rente a trave, com grande susto para Caim, que esbravejava com o zagueiro pela falha de marcação. Foi à linha de fundo buscar a bola para o tiro de meta e ainda assim não notara a nossa presença, fazíamos parte da torcida entusiasmada. Passou por nós com a bola debaixo do braço, cheio de pose, mas com fingida contrariedade com a postura da zaga. Ajeitou o balão de couro e ele mesmo tomou distância para dar o tiro de meta. Deu umas reboladas enquanto corria para tocar a bola para o beque junto à área. O jogo prosseguia com o time adversário dominando o meio de campo. Novo lançamento em profundidade obrigou-o a sair do gol para rebater com o pé, antes que o atacante pudesse finalizar. A sua saída de gol foi parcialmente desastrada, pois correu de encontro à bola, rebolando de tal maneira que quase furou. Olhando melhor, percebemos que o Caim tinha um bundão de dar inveja em muito baitola: era roliço e recheado, dentro de um calção justo. O beque central, um sarará com cara de mau, deu-lhe um esporro:
-Qual’é, ô Picolé!
Olhei para o Ernesto, que continha a custo o riso. Quando Caim retornou para debaixo dos paus, fizemos um elogio alto e exagerado para ele notar nossa presença. Olhou-nos com o rabo do olho e ficou ligeiramente encabulado. Achamos que não tinha nos reconhecido e calamos para evitar maiores constrangimentos. Finalmente, virou a cabeça e nos encarou rapidamente, nos reconhecendo, em definitivo. Permaneceu imóvel, debaixo do gol e vez por outra alisava a cabeleira e cofiava o farto bigode que alguns fios brancos denunciavam que eram pintados de preto.
Eis que em novo ataque do time adversário é lançado o arisco ponta direita, um baixinho barrigudinho, um verdadeiro corisco. O Caim lança um grito mais chegado ao histérico, esquecendo-se da nossa presença.
-Vai nele Sarará! (era esse o apelido do beque mal encarado).
-Não deixa chutar!-, reforçou o apelo.
A voz saiu meio anasalada e mais fina do que estávamos acostumados a ouvir. Cercado pelo Sarará, o ponta arisco ciscou pra lá, ciscou pra cá, não houve penetração de qualquer companheiro para receber o lançamento, então decidiu cruzar sobre a área para ver o que acontecia. Alçada a bola, veio ela descaindo na entrada da pequena área.  Era bola do goleiro. E o nosso herói foi lá. Deu um passe de balé, levantou a perna esquerda encolhendo o joelho, até a altura da barriga, elevou-se com graça no bico da chuteira do pé direito, tal qual um bailarino clássico, cheio de elegância e aprumo. Esticou-se o melhor que pôde no ar.  Aconteceu o inesperado: o balão de couro fugiu por entre seus bem tratados dedos e foi alinhar-se no fundo da rede. Ficamos boquiabertos com a cena seguinte: Caim esparramado no terreno careca da grande área, esmurrava desconsoladamente o solo. E o Sarará não perdoou:
- Seu viado, filho da puta, toda vez que vê o Roberval (o ponta arisco) se arreganha todo!
Resultado: não pegamos mais obra nenhuma e tivemos a pior fiscalização da nossa vida.



Nenhum comentário:

Postar um comentário